Nas últimas décadas do século XIX, a Argentina tornou-se uma das maiores exportadoras de trigo das Américas. É bem verdade que nesta época o porto de Buenos Aires também apresentou altos índices de remessas de carnes congeladas e refrigeradas para o exterior, mas a presença de cereais entre os produtos mais negociados tratava-se de uma importante alteração na matriz agroexportadora do país, visto que até então os produtos de origem pecuária, como os couros, o tasajo e a lã não deixavam muito espaço para os gêneros agrícolas nas exportações. Para algumas regiões argentinas que se especializaram na cultura do trigo, atendendo a forte demanda por alimentos que as grandes cidades do mundo atlântico vinham apresentando, aquele fenômeno socioeconômico foi profundamente transformador.
A obra de Juan Luís Martirén está dividida em seis capítulos e nos convida, de forma instigante, a conhecer melhor os fatores socioeconômicos e institucionais internos que possibilitaram tal mudança ao mesmo tempo em que evidencia os impactos causados pela economia farmer em uma determinada região da Argentina.
Refiro-me à província pampeana de Santa Fé e os seus territórios que foram alvo de uma importante política de colonização entre as décadas de 1850 e 1890. Após a fase de maturação das colônias, Santa Fé tornou-se produtora de mais da metade do trigo argentino, viu as suas estruturas socioeconômicas internas se alterarem profundamente e serviu de exemplo para que suas vizinhas pampeanas investissem no mesmo processo colonizador.