Os rumos de uma pesquisa são sempre direcionados por visões de mundo (teorias explicativas da realidade), experiências de vida, ideologias etc. Ou seja, o historiador é um homem de seu tempo, e aqui neste trabalho não é diferente. As contradições do mundo atual nos remetem a problemáticas que buscamos no passado por demandas individuais e/ou sociais. A ciência História nasceu assim das contradições de sua época, o século XIX e suas múltiplas demandas por criação de identidades nacionais.
Dito isto, o que nos interessa aqui é perceber que no atual momento Portugal se encontra fragilizado por pressões exteriores, e os donos do Capital avançam a passos largos na opressão da classe trabalhadora. O Estado virou um fantoche dos “donos do poder”, numa alusão ao livro de Raimundo Faoro. A “crise” e a “troika”, os cortes na educação, tudo isso nos remete a refletir e repensar o nosso presente. E assim, observar que o passado não é um campo neutro, mas um campo de luta de classes no qual o controle da memória é um mecanismo de dominação social.
Em meio às tormentas na União Européia, o historiador britânico Hobsbawm nos propicia um alento. Segundo o autor, “redescobrimos que o capitalismo não é a solução, mas o problema”.
A afirmação deste consagrado autor é a chave inicial, afinal “a anatomia do homem é chave para a anatomia do macaco”.O presente explica o passado.Sendo assim, o Estado na sua configuração medieval precisa ainda ser explicado. O desenvolvimento e/ou advento do capitalismo transformou o Estado em um joguete manipulado pelos donos do Capital, embora, a falsa democracia liberal crie uma ilusão de igualdade aceita pelas massas. Entretanto, nos remetendo ao nosso objeto de estudo - as sociedades pré-capitalistas- atentemos para o processo de disputa pelo poder que pode e deve ser analisado.
Sendo assim, remetemo-nos ao Portugal dos Duzentos, marcado por conflitos e tensões de várias ordens. A necessidade de compreender essa dinâmica de poder das classes dominantes nos levou até as inquirições levadas a cabo por Afonso III em 1258. Convém lembrar que as inquirições não podem ser entendidas como um fenômeno isolado, criado por este monarca português, já que se configurou como continuação da política de seu pai, Afonso II. Convém lembrar que o reinado de Sancho II foi um período de “anarquia” segundo a historiografia dedicada ao tema.E essa medida auxiliou o monarca a levar a frente algumas decisões políticas.
A ascensão de ao poder Afonso III (1248-1279) marca um momento crucial para o estado medieval português. Todavia, nesta comunicação recuaremos um pouco mais até o reinado de Afonso II(1211-1223), período esclarecedor para a configuração das políticas levadas a cabo pelo Estado baixo medieval português em especial no período de Afonso III.